Urbi et orbi

Quando com trinta anos de idade mudei pela primeira vez para uma aldeia, um amigo insistiu: “Vais voltar para a cidade dentro de um prazo de três anos!”
Porquê, perguntei.
“Por causa do controle social, pá! Na grande cidade se pode fazer qualquer coisa e ninguém quer saber. Numa aldeia é outra sopa, vais ver! Por exemplo, numa aldeia mal abras a porta da tua casa para sair e já chega alguém ao pé de ti que quer saber aonde vais! Não porque está interessado em ti ou preocupado contigo, mas só para ter alguma coisa para conversar com os vizinhos! Ahahah, quem te avisa, teu amigo é! Eu dou-te três anos!”
Depois dois anos voltei viver na cidade…

Quando cheguei com meu veleiro no rio Guadiana, pensava logo: Como é lindo Pomarão!
“Mas cuidado com as pessoas, amigo!” avisou-me logo o Ozzie, um iatista inglês, “Há maldizentes um pouco por todo o lado! Guarde a distância! Não te metas!”
Não lhe dei ouvidos, claro. Pois, encontrei o amor da minha vida, não é!? E porque ela viveu quase toda a sua vida em Lisboa, riu-se muito quando lhe contava sobre o aviso do Ozzie: “Não te preocupes, meu amor! Sim, é verdade, as cadelas ladram, mas… a caravana passa!”

Um dia metido na conversa com um vizinho, uma boa pessoa por acaso, fiz-lhe a pergunta: “Porque será, que muitas pessoas são assim? Às vezes parecem mais envolvidas na vida dos outros que na própria.”
“Mesquinhez com maldade,” respondeu ele, “uma mistura Venenosa!”
E ele deve saber, (sobre)viveu com ela…

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