Ô, Pomarão, minha terra, minha gente …

– Trezentos euros.
– Como?
Parece que sou cada vez mais mouco. Tinha contado com um cortezinho na orelha, um adesivo e pronto!

A nossa veterinária de costume estava de férias. Por isso tivemos tido de procurar alternativa e vimos parar em Castro. Para ter a certeza que não me iam vender gato por lebre, pedi um orçamento. O assistente não sabia e desapareceu para consultar a doutora. Quando voltou:
– Trezentos euros.
– Como?
– Trezentos euros!
– Como assim? Explique-me lá!
Seguiu um discurso com numerosos termos médicos que não nos ajudou muito. Bem, já tínhamos feito toda essa viagem do Pomarão para o Castro, não é, e o bicho esteve a sofrer …
– Mas pelo menos está tudo incluído?
– Está tudo incluído — tudo!
Olhei para a minha mulher. Ela tinha lágrimas nos olhos. Eu também, mas … se calhar por outro motivo.
– Então, va! Bora lá!

Fomos lá mais duas vezes; uma vez para ver como estava a nossa Diana depois a cirurgia e a terceira vez para busca-la e para pagar a dolorosa.
É capaz que os funcionários da clínica gostam muito de animais, não tenho prova do contrário. Mas desde o início ficou muito claro que não gostam nada de seres humanos — parece que um sorriso custa dinheiro. Também não ofereceram uma cadeira para a gente se sentar. A minha mulher é fresca como uma alface com os seus 87 anos. Mas eu, com a minha artrite, estive a sofrer. Também reparei que havia muitos assistentes por aí; parece que todo o Castro é funcionário naquela clínica. Mas todos têm uma cara de poucos amigos; todos deram a impressão que aquilo era o último lugar no mundo onde queriam estar.

Uma semana mais tarde recebemos um SMS da nossa veterinária de costume: ‘Recebi a vossa mensagem e a foto Já voltei Passem por aqui na segunda se quiserem
Fomos lá na segunda-feira passada e expliquei à senhora doutora:
– O meu problema é, que estive tão zangado quando fomos buscar a Diana, que paguei a conta e fui-me embora sem dizer mais uma palavra. Não quero nada voltar lá … nunca, nunca mais! A senhora doutora não pode tirar os pontos da orelha, se faz favor?
– Porque o senhor estava tão zangado?
Contei-lhe o sucedido.
– Mais do que quinhentos euros!? Não me diga!
A minha mulher mostrou-lhe a fatura.
– E onde ficou esse colar que está detalhado na fatura?
– Nunca temos visto!
– Que pouca vergonha!
A senhora doutora e a sua assistente aplicaram anestesia e tiraram os pontos da orelha da Diana.
– Quanto lhe devo, senhora doutora?
– Quinhentos euros, ahahahah! Nada, claro.
Deixamos vinte euros para os cães do canil, porque a senhora doutora não quis aceitar mais.

Quando chegamos em casa, a Riscas estava a andar em três patas; uma perna estava a sangrar. O bicho tinha levado uma pedrada ou qualquer coisa …



Dit vind je misschien ook leuk...