Muita confiança, pouco respeito

Há se calhar quinze dias que estive a comprimentar um casal idoso quando tocámos no assunto dos incêndios trágicos na Grécia…
Isso não havia nos tempos de Salazar, opinou o homem.
O quê? perguntei eu. Incêndios?
Não, respondeu, mão criminosa, pá… fogo posto! Ainda havia respeito!
Olhei para a mulher dele – ela disse que sim com a cabeça.

Será que o Salazar na altura tenha exagerado uma coisinha de nada a sua influência no mundo? Estamos a falar da Grécia, por amor de Deus… ahahah!
Estou a brincar. É óbvio que o casal está muito preocupado com a falta de respeito nos tempos que correm, e que o homem julga que a criminalidade epidémica é um dos sintomas da mesma.

Até consigo entender o raciocínio deles – respeito baseado em medo é sempre melhor do que respeito nenhum.
O que preocupa ao casal idoso, é que depois da Revolução dos Cravos tem chegado uma geração que descobriu com rapidez que desrespeito aos valores infligidos durante a antiga ditadura fica rigorosamente impune – vive à liberdade, ahahah!

Tenho as minhas dúvidas que um regresso à ditadura seja a resposta certa a essa falta de respeito.
Não sei se tenha razão, mas estou convencido que respeito é um dos valores que costumam sair do interior de uma pessoa – da nossa alma. Não é alguma coisa que deve ser ‘infligida’ do exterior, por exemplo pela ameaça de castigo.

Não um regresso ao fascismo do Salazar e a sua PIDE, a meu ver, mas para frente é o que é o caminho da liberdade. O próximo passo nesse caminho na minha opinião é ensinar às pessoas que a liberdade é boa – é coisa para ser celebrada, sim senhor! – mas que a liberdade de um indivíduo acaba onde se toca à liberdade do outro.
Em outras palavras, a liberdade não é ilimitada, mas condicionada no espaço público pela dignidade e bem-estar do cocidadão – a liberdade é coisa partilhada entre nós todos.

Mas, quem vai ensinar essas coisas às novas gerações, uma vez que muitos dos pais e professores nos tempos que correm fazem parte dessa ‘geração perdida’?
Resposta:
Aqueles que aprenderam com os pais e avós que respeito é uma coisa natural, um valor intrínsico, que existe independentamente das circunstâncias políticas ou conjunturais – eles vão ensinar as novas gerações.

Como explicar esses meus pensamentos ao casal idoso, uma vez que cada qual sente o seu mal. Não tenho nenhuma prova que as coisas vão ser assim, com investimento em boa educação.
Também é verdade, que a minha autoridade e credibilidade na aldeia estão a sofrer bastante ultimamente graças à nossa vizinha, que é a encarnação de falta de respeito. Quanto a isso só posso culpar à minha própria teimosidade – ignorei os avisos da parte de quem a conheciam bem, e acabei por dar-lhe confiança. E é como diz o outro: muita confiança, pouco respeito.

Quanto ao casal idoso, se calhar a melhor resposta por agora é a resposta habitual que se dá às chatices – a que exprime tão bem a humildade e a submissão ao fado: Paciência!

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