Meu Alentejo

– Olá, Tiago. Há muito tempo, pá! Como estás? Ainda não estás farto do Alentejo?
– Nunca, Zeca!
– Então, gostas de estar aqui! Não tens saudades da tua pátria Frísia?
– Nem um momento. Adoro estar aqui. Aqui encontrei o amor da minha vida, a mulher mais valente que já conheci. Adoro o clima. Não tenho saudades do frio ou da chuva. Adoro o ambiente, o rio e a natureza em geral. Gosto do silêncio, gosto do fado… enfim, gosto de tudo.
– E as pessoas?
– Impecáveis!
– Não há diferenças?
– Como, diferenças?
– Entre os alentejanos e os frísios… uma coisa que não gostas na nossa maneira de estar.
– Acho que não. Antes pelo contrário. Penso que há muitas semelhanças. São amáveis… embora tenha a impressão que os alentejanos me acham muito bruto e mal-educado.
– Como assim?
– Na Frísia, a gente é muito simples e direita… ‘sim’ é ‘sim’ e ‘não’ é ‘não’. No Alentejo, dizer ‘não’ parece ser considerado como alguma coisa que não se faz. Percebes?
– Uh… sim.
– Ahahah, já estou a ver que não. Vou dar um exemplo. Vamos supor que alguém me diz: ‘Amanhã passo na sua casa!’ Quando o próximo dia a minha mulher quer fazer compras porque lhe falta alguma coisa, vou dizer-lhe: ‘Não podemos sair, pá! O homem vem cá.’
– E o tipo não aparece. É isso?
– Nunca vou me acostumar com isso. Às vezes parece que têm a agenda do todo o mundo à sua livre disposição.
– Estou a ver.
– Estou curioso o que aconteceria quando eu não estivesse em casa no dia combinado… no caso hipotético, claro, que o outro aparecer.
– O gajo com certeza ficaria chateado contigo.
– E com razão! Mas está-se nas tintas para os outros?
– Se calhar… paciência!
– Paciência… sim. Admiro muito a paciência angélica dos portugueses.
– É verdade? Tens um exemplo?
– Quando se marca uma consulta médica… vamos dizer às 9:25… uma hora de espera – se não é mais – não é nada fora de normal. Num outro país, o paciente já teria ido embora: ‘Tenho que fazer!’ Aqui ninguém se zanga. É incrível!
– Paciente é paciente. Ter respeito é a nossa cultura.
– É capaz que num outro país se chama a isso ‘falta de respeito’, mas… tudo bem. A ideia é: os doentes estão lá para o pessoal médico… não o contrário.
– Então, pá… porque não vais para o teu próprio país, se não gostas de estar aqui?
– Escuta lá… comecei por dizer que gosto imenso de estar aqui, mas tu insististes que eu mencione uma coisa que não gosto. Foi assim ou não foi?
– Foi.
– Ou queres dizer que os estrangeiros só estão bem-vindos se não têm uma opinião e se calam a boca?
– Ahahah! Claro que não. Estamos num país livre, felizmente. Peço desculpa!
– Não é preciso, pá. Gosto de conversar contigo porque sempre dizes o que pensas… e agradeço-te por isso.
– De nada.

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