Alerta vermelho (1)

Existem muitos malucos. Nesse sentido não há nada de novo debaixo de sol, o mundo é assim. Essa realidade só se torna num problema imediato quando a própria vizinha prova ser uma doida.

Não posso dizer que não fomos avisados. As pessoas na vizinhança dela em Mértola (que hastearam bandeira quando mudou para o Pomarão), até algumas pessoas de Moreanes e Santana que a conhecem, já nos avisaram: “Não lhe dê troca! É bruta e mal-educada!”
Não costumo dar ouvidos àquela coscuvilhice, confio na própria experiência. E também sabíamos do grande desgosto na vida dela, que é capaz de enlouquecer qualquer pessoa. Além disso, nenhuma pessoa pudera ser tão má como as pessoas nos descreveram.

O primeiro indício que alguma coisa estava fora do normal, era que a mulher nunca – mas mesmo nunca – consegue dizer alguma coisa positiva. São apenas críticas que saiam da boca dela, todos os santos dias – boca que sempre está mastigando algo, como as vacas. Também qualquer resposta ou piada está sempre interpreteda negativamente. Resultado: ela zanga-se logo. Essa disposição explosiva já ganhou-lhe a alcunha Bomba H.

O segundo indício foi quando nós nos ausentámos durante o verão de 2016. O vizinho prometeu tomar conta da nossa horta.
Mas, repare bem, são três(!) meses, vizinho!
“Não se preocupem, fiquem descansados!”
Depois um mês um telefonema. A vizinha: “Mas o quê é isso! Três(!) meses de férias!? Não é normal, pá! A gente tem direito a alguns dias também, não acham!?”
Não é preciso acrescer, penso eu, que ao nosso regresso a horta estava toda queimada. O vizinho, envergonhado, pediu-nos logo desculpa: “Mas não havia nada para fazer, Jaap! O calor era tal … Percebes?” Sentindo a vergonha dele resisti à tentação de perguntar porque a horta deles continuava a ser um paraíso de verdura.

O terceiro indício era quando a vizinha me interpelou, no início do ano passado, sobre a bandeira da minha pátria: “Aquelas cores não são boas, pá, aquelas cores atraiem mau tempo e trovoada.” Desatei a rir, até que me dava conta que ela estava mesmo a falar a sério.
Por causa da seca severa que estava a castigar este país, icei logo a bandeira. Desde então nenhuma pinga de chuva – deixe estar trovoada.

A lista não tem fim, mas … mas o leitor estimado já deve ter uma ideia como é que é.

Agora estamos de castigo, ela não mais quer falar connosco. Não conhecemos o motivo, mas … que alívio! Nem vamos saber qual a razão por que … não quer falar, pois não. E, para dizer a verdade, estou-me nas tintas. Que santo castigo! É o melhor castigo do mundo, pá!

Mesmo assim, sinto um bocadinho de pena dela. Por que daquí a pouco só terá os outros malucos da aldeia com quem falar. Felizmente há muitas. Malucas, quero dizer. Também há sempre muitos turistas, que não falam nem entendem português.
Posso ficar descansado então: a vizinha nunca se sentirá sozinha.

Há uma única coisa mais horrível que ter uma doida varrida como vizinha, julgo eu. É tê-la como esposa.
O remédio que o vizinho encontrou, é: sair da casa logo de manhã, e só voltar para comer ou dormir.
Antigamente, quando tinhamos uma vizinha irlandesa – que era amante do vizinho – ele nunca mostrou essa pressa de querer sair da cama … perdão, da casa logo às oito de manhã. Agora está aposentado e pira-se todos os dias, sete dias por semana.
Pergunto-me eu: porquê? Ahahahah!

Todavia, o vizinho não é má pessoa. O único problema é que a loucura parece ser contagiosa ultimamente. O outro dia perguntou-me: “Vocês deixaram de falar connosco. Porquê?”
Estás maluco ou o quê? Pergunte a tua mulher, pá!
“Ah, sim, vocês têm sempre razão, não é.”
Razão, não sei, mas pelo menos falamos verdade – coisa rara, parece, convosco.

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