Alerta vermelho (2)

Há pouco escrevi aquí que um verdadeiro comunista quer partilhar tudo que tem, com os outros. Infelizmente há muitos falsos comunistas, aqueles que também querem partilhar tudo, mas tudo que têm os outros. A nossa vizinha pertence à essa última categoria – senão lhe dê tudo que ela quer, vem buscá-lo. Em termos médicos chama-se a isso ‘cleptomania’, penso eu.

Falando de medicina …
A médica de família dela foi censurada veementemente pela vizinha em frente de todos que quiseram ouvir, por que a mesma tinha tido a audácia de supôr um esquema, quando a vizinha lhe pediu uma atestação de incapacidade de trabalho. Aquela tentativa à burla dela fez me lembrar dos grafitos que vi uma vez em Lisboa: ‘queremos dinheiro, não trabalho’. Como ela conseguiu a atestação afinal, não faço ideia, mas imagino que os idosos no lar onde ela ‘trabalhava’, devem ter sido muito aliviados. Por que a maneira pouco respeituosa que ela fala sobre (e com!) idosos, mostra pouca-vergonha.

Depois, oficialmente incapaz de trabalhar, ela foi à procura de trabalho. Até a família espanhola da minha mulher chegava ao pé de nos insistindo que déssamos dinheiro … eh, trabalho à coitadinha de vizinha. Chamen nos esquisitos, mas não temos muita confiança em ladras, não sei porquê. 😉 Brevemente, recusámos a ‘oferta’.

Mas, como eu já disse, senão lhe dê tudo que ela quer, vem buscá-lo. Um dia pegou numa coisa na nossa mesa enquanto conversando com a minha mulher e saiu da porta – o ornamento de cobre na mão …
Mas tu não disseste nada, perguntei eu à minha mulher quando me contou o incidente.
Ó Jaap, não se pode fazer isso em Portugal, explicou-me, que vergonha!
Pois é, comentei, é a diferença entre vocês duas, não é: vergonha. Os livros teus que ela tem emprestado, nunca mais vais ver de volta também não.
E nem se pode lhos pedir, por que nem responde – não quer falar connosco como já wxpliquei no primeiro episódio.

Por isso pedimos ao marido dela para devolver as nossas coisas …
Mas o pobre rapaz tem tanto medo da própria esposa que lhe é preferível de se entregar de corpo e alma nas manias dela. Resultado: folie à deux.
E já está muito fraquinho de saúde também, coitadinho. Provavelmente nem sequer sabe o que a mulher disse ao todo o mundo, quando ele tinha a sua amante irlandesa. Que queria divorciá-lo mas que o dinheiro que ela ganhou, não chegava; que então preferia ficar com o marido, não por amor mas por interesse. Esqueci-me do termo cientifico exato por essa maneira de viver, mas acaba com –utaria, se me lembre bem, e começa com um p. 😉

Mesmo assim, a vizinha fica muito ciumenta. ‘A puta da inglesa’, como ela chama uma boa amiga deles, ‘está loucamente apaixonada por meu marido.’
Tentámos explicar (sinceramente nem sei porquê) que um sorriso duma mulher estrangeira não necessariamente implica paixão ou ‘me too, me too!’
‘Cego é quem não quer ver.’
Deixe estar, não vale a pena.

Porquê eu estou a escrever essas coisas? Porque não gosto de falar mal, ahahah.
Não. A vida é bela desde a vizinha não fala connosco. Escrevo só para tentar lidar (sem explodir) com essas pequenas chatices que ela inventa todos os dias. Também não tenho a vontade (nem a paciência, como tem ela) de ir ao café para refutar todas as invenções, meias-verdades e mentiras. Sou muito caseiro. Gosto de viver em paz. Gosto de pintar e de escrever. Escrever para mim é uma espécie de válvula de escape e um bom exercício na linda língua portuguesa.

Quais chatices diárias ela inventa?
Isso fica para o próximo episódio de Peyton Place. Mas um dessas é que nos tenta isolar do resto da comunidade.
Não faz mal. O vendaval vai passando e as pessoas estáveis e sinceras vão ficando.
Pelo menos, espero que sim. 😉

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